quinta-feira, 25 de abril de 2024

A diferença entre reconhecer e reparar os crimes históricos e atuais

 

Charge: Myrria

É muito bom quando um chefe de estado reconhece as práticas exploratórias, colonialistas, cerceadoras de liberdade e genocidas de seu passado histórico. 

Quando lemos a declaração do presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, curiosamente um política vinculado à direita, afirmar que o país cometeu "abusos durante a Guerra Colonial", confesso sentir "um quentinho no coração", expressão que aprendi com os mais jovens. 

Quando se debate a reparação, aí, a história e a prática econômica precisa ser avaliada com mais atenção.

Vivemos, no Sul Global, as consequências de um passado que se perpetua no presente; a escravidão, o genocídio e a expropriação ainda são práticas dos mais ricos contra os mais pobres, os empresários contra o trabalhador; a elite contra a burguesia, os detentores do poder contra os sem-direitos.

O nosso povo sofre  com a violência social, econômica, racial e até mesmo física praticadas, local e universalmente.

O Brasil e os países da diáspora africana fomos saqueados e escravizados pelos colonizadores/exploradores/governo português. 

A América Latina foi dilapidada pelos espanhóis, ingleses, franceses. 

Onde houver um crime histórico identificaremos um criminoso europeu, mas não só eles.

As sociedades locais, na época, colaboraram para esses crimes, enriqueceram com eles e os seus descendentes continuam bebendo da fonte da escravidão do povo africano, do genocídio dos povos indígenas e os países colonizados sofrem ainda hoje as consequências dessa prática. 

A pobreza, gerada pela acumulação de poucos contra a população, gerou estereótipos que fomentam a exclusão social, o racismo, a aporobobia e outras práticas excludentes.

Sim, a reparação é urgente, mas quem vai pagar a conta? 

Quem serão os indenizados?

Este custo não pode ser pago com recursos públicos, que seriam desviados e deixariam de beneficiariam o povo que, em todo o mundo, vive as consequência de outro ciclo exploratório: o neoliberalismo.

Os europeus têm uma dívida de sangue e de moral, que tem de ser paga, mas como? 

Talvez, comprometendo-se com a mudança social. 

Por exemplo:

fomentando o comércio exterior, a educação, a troca de tecnologia entre as nações exploradoras e explorados; garantindo que os países colonizados possam se desenvolver culturalmente e socialmente; que seus produtos e riquezas naturais sejam valorizados e comercializados por preços decentes; que as fronteiras se abram para que os diferentes povos sejam recebidos como pessoas humanas, com equidade e respeito;

é preciso que os países antes explorados recebam os recursos financeiros, com a pré-condição que os valores sejam revertidos exclusivamente para os povos afetados historicamente. No caso do Brasil, no combate à pobreza, valorização dos quilombolas, remarcação das terras indígenas, fomento à pesquisa para identificação das origens dos povos que tiveram as suas identidades ceifadas;  investimentos em estudos direcionados para identificar a história oculta durante mais de 500 anos de história;

precisamos cobrar das famílias que ocuparam o Brasil os impostos das heranças perpetuadas nesta lógica exploratória. 

Afinal, muitos lucraram de forma extorsiva mesmo nos países antes explorados e agora exploradores.

No Brasil não foi diferente: há muito rico que bebeu da fonte da escravidão.

É preciso esclarecer, nomear quem são as famílias e empresas que beberam nessa fonte inesgotável, e que continuam enriquecendo com os frutos do passado imoral.

O Estado brasileiro surgiu na pós-colonização, e seguiu uma lógica exploratória.

Nós, o povo brasileiro, precisamos entender o nosso passado, reconhecer a nossa responsabilidade, mas a conta tem de ser paga pelos exploradores, sejam os europeus, as famílias radicadas e no Brasil e seus descendentes, e toda nação que corroborou às práticas da exploração.

A decolonização é consequência da descolonização, porque uma está necessariamente vinculada a outra e não se excluem. 

Decolonizar implica em se reconhecer, descolonizar é uma tarefa complexa que implicaria identificar as diferentes práticas coloniais impostas e que, em certa medida, nos tornaram o que somos. 

A sociedade brasileira foi forjada nesta lógica histórica, passou da hora de nos emanciparmos e declarar a independência real.


segunda-feira, 8 de abril de 2024

Qual o nome do "filho do Lula"?

Imagens: reprodução

                         Se depender da mídia brasileira,

                          ele não tem nome, 

                          nem apelido, 

                          nem sobrenome.






 .

Busca aleatória na web com palavras-chave
Mas, certamente o leitor sabe muito bem os nomes dos filhos número 1, 2 ,3 e 4 do ex-presidente do Brasil.

A identidade do primeiro lhe é negada enquanto os demais têm presença garantida nos títulos, manchetes. subtítulos e corpo das matérias.

Este artigo questiona os porquês de alguns serem Eduardo, Carlos, Flávio e Jair Renan enquanto o outro é associado ao nome do atual presidente..

Os filhos de Bolsonaro são nomeados, não importando se as suas ações são boas ou ruins, e isso varia de acordo com a audiência, não é mesmo?

No caso do "filho do Lula", o teor das notícias parece sempre ser direcionadas para atingir o pai.

Nas reportagens, e nas mídias digitais, a identidade de um é negada, enquanto a dos irmãos reforçada.


Que jornalismo é este que se refere a alguém, no caso o personagem da reportagem, pelo grau de parentesco/interesse?

Isso acontece nas editorias de política, esportes, artes e espetáculos e até na policial.

Com famosos e anônimos.

Quando interessa para o editor/articulista, "vender" likes ou somar monetização, o parentesco dita a polêmica da vez.

Luís Claudio Lula da Silva é adulto, independente, não tem cargo público, é "homem feito e barbado", como diriam os mais velhos.

A questão a ser debatida aqui é: 

Por que a mídia insiste em não nomeá-lo, mas associar o seu caráter, seu bem ou mal feitos ao presidente Lula? 

Pior ainda: 

Exigir que o pai responda pelas atitudes do filho?

Violência doméstica tem de ser investigada, pois no Brasil é crime.

A ex-companheira tem a minha solidariedade.

Cabe à Justiça investigar, apurar, julgar, punir ou absorver.

Agora, como diz a música:

Gado a gente marca, 

Gente tem nome,

e toda pessoa tem o direito de ser chamada e o dever de responder por ele.




As boas práticas que temos de aprender com a Bolívia para neutralizar os golpistas

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