domingo, 22 de janeiro de 2023

50 anos depois… A fome, a miséria, o descaso é do Brasil!

 

Por Adriana do Amaral, jornalista


Lembro-me quando pequena, eu ainda não sabia ler as letras, mas nunca me esqueci das fotos: adultos esquálidos, costelas à mostra, ventres vazios e a cor preta desbotada nas fotos publicadas na Revista Manchete. O continente era outro, o Africano, e o povo sofria de carência generalizada. Morria à míngua para o mundo ver.

Indios mendigando na beira da estrada - GazetaViews
Depois, aos poucos, conheci nos livros, filmes e reportagens, a agonia do povo judeu em campos de concentração. Pessoas morriam tanto de fome quanto torturados em sua dignidade do ser. 
Outra foto dramática é da sobrevivente de outra guerra, no Vietnã. 

Os mesmos corpos nus: os oprimidos de suas épocas. Mas...

Há tantas outras lembranças oriundas do fotojornalismo -de verdade e não resultante das montagens… Testemunhos do descaso com a vida -e desrespeito à vida humana. Mais recentemente, do homem sufocado pela violência policial aos milhares de brasileiros enterrados em valas comuns, assassinados pela falta de oxigênio no Brasil. Na manchete, o jogador de futebol que não respeita o limite do não.

No sábado (21), as fotografias do povo ianomâmi, registradas no Estado de Roraima, parecem confirmar que retrocedemos na evolução social. Na véspera, os agentes de saúde denunciaram que não eram “capazes de contar os corpos dos pequenos indígenas". Brasileirinhos originários, que morreram sem ter a oportunidade de absorverem sua cultura encantada. Cerca de 570 crianças! E tantos outros adultos.

O presidente do Brasil, Lula, foi conferir a tragédia anunciada. Deu uma saudade tamanha da médica Zilda Arns, e da sua fórmula contra a desnutrição infantil: tão simples, tão eficaz. Saudades também do irmão do Henfil, o Betinho e seu Programa Fome Zero.

O que me remete à década de 1990, quando acompanhei a equipe de saúde voltada aos indígenas, no interior de São Paulo. Política pública.

Era realizado um trabalho delicado, de reconhecimento mútuo, quando duas culturas compartilhavam conhecimento, numa relação de troca de saberes. Então, era respeitada a vontade dos indígenas, mas o diálogo era intenso quando havia gravidade patológica e risco de morte.

Tudo pelo SUS. O Sistema público e universal de saúde, quase destruído, e que agora deve ser resgatado como referência para o mundo.

Nas ruas das cidades brasileiras pessoas estão morrendo de fome; nas celas, pessoas em situação de cárcere morrem de descaso, na selva de pedra ou de mata os brasileiros morrem. A violência generalizada cria, ao mesmo tempo vítima e algoz. Como reverter esse caos? 




4 comentários:

  1. Ótimo texto expondo mais a tragédia do nosso povo pintado. E comparando-a com outras tragédias que também não podem ser esquecidas.
    Que os responsáveis e os apoiadores do governo Bolsonaro sejam mostrados punidos.

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  2. Sim, a História nos conta o passado, mas nem sempre aprendemos com ela. #SemAnistia

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  3. Texto excelente! Vou aprender muito com esse canal! Adorei como você expõe os fatos!

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