sábado, 25 de fevereiro de 2023

Seria a nova moda fumar?

Foto: GazetaViews


A nova onde dos personagens fumantes da Netflix sinalizam reação da indústria tabagista?

Quando pequena, ouvi muitas vezes a história que o meu pai contava de como desestimulou a minha irmã mais velha e, consequentemente, todos os outros quatro filhos, para o hábito de fumar. Ele comprou um maço de cigarros, acendeu um deles, mas antes de ela tragar pegou uma nota de dinheiro, enrolou tal cigarro e simulou atear fogo. Foi aí que começou o sermão: 

"Se vc quer queimar dinheiro comprando cigarros saiba que estará fazendo mal ao seu bolso, mas se começar a fumar, fará mal à sua saúde. Este causo virou lenda familiar.

Cresci com o chocolate da marca #Pam em forma de cigarro nas prateleiras na Padaria Santa Maria, onde cresci. Fazia charme com a delícia nos meus dedos e boca. 



Na televisão, no cinema, na revista, na rua, nas casas, no clube, no cinema, no transporte público, quase todes fumavam. Eu não.  

Sempre lembrava da história do meu pai, tal consciência do grilo falante. Curiosamente, ele, que nunca fumou, comprava tabaco de corda para o pai dele, fumante, e que viveu até os 99 anos!

Na adolescência, fui fumante passiva, quando não sabíamos o quanto prejudicial era. Muitos amigos e colegas fumavam - era chique, era sinal de rebeldia e até independência - e os meus cabelos e roupas cheiravam a cigarro.

Lembro-me de um professor, na faculdade de jornalismo, que dizia: quer fumar na aula? É um direito seu, mas é um direito meu dar aula sem o seu cigarro me incomodar. 

A solução ao impasse foi os colegas fumantes aprenderem as lições do lado fora da classe, pelo janelão. Sorte que a sala de aula era ampla, sem a "modernidade" do ar-condicionado, tinha três janelões imensos, que ficavam abertos e davam para um jardim.

Depois vieram os achados das pesquisas científicas sobre os malefícios do tabagismo à saúde. Também a legislação, que determinou a proibição do acesso dos fumantes aos ambientes fechados e criação de espaços destinados a eles. Também, as advertências dos malefícios do vício de fumar nos maços de cigarros e a *proibição das propagandas nos pontos de venda.

O fim da era sonhada com o mundo de Marlboro

Muita coisa mudou desde então. Inclusive a tentativa, nem sempre bem sucedida, de tratamentos para os fumantes abandonarem a dependência e as terapias diversas para sanar as doenças relacionadas. Alguns dos meus conhecidos conseguiram parar de fumar, mas afirmam que sonham que estão fumando quando adormecidos.

Mais recentemente os nargilés e o cigarro eletrônico ganharam a simpatia da moçada e, aos poucos, fumar virou moda novamente. Apesar da ciência, apesar da lei, apesar do preço dos cigarros.

Há meses tem me chamado a atenção o aumento de personagens fumantes nos seriados da #Netflix. Na maioria das séries - e filmes - há um ou mais fumantes com cigarro em riste nas cenas. Em todas as cenas, muitos protagonistas e a fumaça invade a telinha. Até séries destinadas ao público jovem ou familiar têm fumantes.

Aí vem a dúvida: seria o lobby da indústria tabagista em ação? Na vida real, recentemente, vi jovens mulheres, mães com crianças pequenas, inclusive, compartilhando tanto cigarros eletrônicos quanto cigarros comuns. 

Já seria o reflexo da ficção na vida real? Informação não falta.

Em tempo: Sim, os homens fumaram ao longo da história, movidos por diversas crenças, ideologias, culturas, tradições. A questão a ser debatida é: até que ponto a Indústria Cultural novamente se une ao mercado?

Nota da autora:

A fotografia que ilustra este texto foi registrada numa reserva indígena em São Paulo. As crianças acharam uma ponta de cigarro, fumado por uma mulher branca, descartada descuidadamente. Não foi publicada na época, anos 1990, em respeito ao pedido da fumante, que percebeu o descarte incorreto e o exemplo.

* A lei federal no 12,546/21 aperfeiçoou a anterior, 9.294/96 proibindo em território nacional a propaganda de cigarros nos postos de venda.



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