domingo, 28 de maio de 2023

O vermelho da liberdade

 

Imagem: Reprodução web
O branco do absorvente gera a igualdade do corpo feminino que permite a fraternidade 

A menstruação, em pleno século 21, continua sendo tabu. No Brasil, o país dos corpos desnudos nas praias, a pobreza (econômica, cultural e social) afeta a rotina de parte das mulheres em seu ciclo natural. 

Hoje (28), a questão da dignidade menstrual é lembrado no Dia da Higiene Menstrual. Outra data que não precisaria existir num mundo mais justo.

Durante meses o país debateu a importância da distribuição de absorventes íntimos para as brasileiras de baixa renda, em situação de cárcere e estudantes de escolas públicas.  No ano passado, o ex-presidente Jair Bolsonaro vetou parte da Lei Federal no. 14.214/21, mas o Ministério da Saúde do governo popular criou do Programa de Proteção e Promoção da Dignidade Menstrual. O objetivo é distribuir absorventes íntimos, pelo Sistema Único de Saúde (SUS), para estudantes da rede pública de ensino, mulheres em situação de rua ou de cárcere e transgêneros.

Acredita-se que quatro milhões de brasileiras serão beneficiadas e não terão mais de recorrer ao papel higiênico, jornais e - quando a fome permite - miolo de pão para conter o sangramento. Isso, em tempos que as mais modernas têm a "modernidade" dos coletores, calcinhas menstruais e bioabsorventes: produtos ecológicos e sustentáveis.

A pobreza menstrual foi denunciada ao mundo pela senadora Glória Orwoba, no final de fevereiro, depois que foi impedida de entrar no parlamento, no Quênia, por estar com a calça manchada pelo sangue da menstruação. Eu presenciei o horror de executivos, durante uma reunião numa empresa multinacional, ao perceberam o sangue da colega pingar da cadeira, durante uma reunião de negócios.

Num país onde o Planejamento Familiar é difícil e o aborto proibido, a menstruação, que costumava ser um alívio para as mulheres, muitas vezes se torna o problema. Em idade fértil a mulher sangra e sem absorvente (ou o número suficiente dele) ela pode ter a liberdade de ir e vir cerceada e/ou individualidade exposta. Muitas correm o risco de adoecerem, devido às  infecções, pelo comprometimento da higiene íntima.

Para as adolescentes a dimensão do problema afeta a sociabilidade. Sabemos que algumas ainda enfrentam os mitos relacionados à menstruação, que se mantém por gerações. a falta de absorvente também aumento o absenteísmo. 

Nas mídias sociais, formadoras de opinião gravam depoimentos sobre a menopausa e como ela não implica em envelhecimento (fenômeno do etarismo) e alterações da libido. Nos testemunhos, afirmam que a vida continua com o cessar da menstruação. 

No dia a dia, as anônimas só gostariam de ter o ciclo interrompido... Afinal, o sangramento, natural, vira um problema assim tal qual uma gestação indesejada.

Falta absorvente, mas também falta informação. Em plenos anos 2020, é urgente  investir e garantir o acesso à informação sobre a menstruação, lembrando que nem sempre as mães/avós/professoras sentem-se seguras ou confortáveis para conversar sobre o assunto com as crianças.

Já os homens... Parece não ser "problema" deles, não é mesmo? 

Menstruação é fisiológico. O que não é natural é a mulher se tornar vítima do próprio organismo.


sexta-feira, 19 de maio de 2023

A independência dos Poderes

"A fina flor do neofascismo nacional"
Foto: reprodução, frase: Cesar Calejon
Não sinto aquela sensação de revanche, mas tenho nos lábios um riso gostoso, daquele gozo de quem, finalmente, aprendeu a esperar o doce esfriar. Pois assim podemos sentir os sabores - no caso identificar as nuances - dos diferentes elementos que constitui o prazer. 

Hoje, celebro a Justiça brasileira, mas ainda morna. Sei que terei de esperar um pouco mais até o "caldo" tomar corpo.

Há anos, lembro-me bem, assustei-me com a nomeação do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. Confesso que o passado como Secretário da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo me apavorava. Ainda não me sinto completamente confortável, mas admiro a maneira como ele balançou as estruturas da justiça brasileira e vem conseguido - sim, ele é protagonista - unanimidades raras.

Dois episódios recentes mostram que, tudo indica, mudamos o rumo da história recente do Brasil: a cassação do mandato de Deltan Dallagnol e a condenação de Fernando Collor de Mello. Com provas e sentenças baseadas na lei. Mas, falta muito para que a justiça realmente seja feira, de fato e direito. 

Carrego na mochila o broche "sem anistia". Repito: não se trata de perseguir os algozes que nos ensinaram tanto sobre o ódio, sobre a mentira, a mesquinhez, a soberba, a arrogância, a corrupção, o coleguismo, o descaso com a vida humana... 

Trata-se de Justiça. Sofremos na pele e ainda muito de nós, como eu, sofre os efeitos na alma pelas relações desumanas desveladas...

Registro aqui a frase que, para mim, define com precisão a legenda da fotografia que ilustra este texto:

"A fina flor do neofascismo nacional,"

Não é minha, é do jornalista do ICL - Instituto Conhecimento Liberta - @CesarCalejon.

Ao repeti-la lembro que que nós, cidadãos brasileiros, somos regidos por três poderes: o Executivo, o Legislativo e o Judiciário. Três forças independentes que, se trabalharem idealmente, conseguirão nos fazer do Brasil uma Pátria que merece ser amada. Está difícil!

Lula tem um desafio para colocar em prática o governo popular: desmontar as armadilhas do governo anterior e arapucas resultantes da Frente Ampla. Mesmo com esses limites, trata-se de um Executivo respaldado por um ministério (quase totalmente) comprometido. Presidente que está fazendo história - e política pública e internacional - de novo.

O Judiciário vem avançando, alicerçado na sua independência como poder constituído, derrubando a tese do revanchismo. Mas, falta muito. Ainda convivemos com um desaforado um ex-presidente  que tem de ser julgado pelos muitos crimes cometidos. Ele não está só. Há muito a ser investigado, apurado, provado e, se tudo correr bem, sentenciado.

Já o Legislativo... Este realmente será um desafio! Forças antagônicas terão muito a dialogar e decidir juntos. 

Quanto ao quarto poder, a imprensa, repito outro colega jornalista, Leandro Demori, do Intercept Brasil e também do ICL:

"Não queremos notícia processada."

Ou seja, queremos informações tal picanha - ou para os veganos, soja sem agrotóxicos. Não salsicha. Queremos "comida de verdade".

Temos pouco menos de quatro anos para aprender a reagir. 



quarta-feira, 10 de maio de 2023

Cada um tinha um motivo para homenagear Rita Lee

 

Fotos da Autora


São Paulo amanheceu chovendo nessa quarta-feira, 10 de maio.

Dia cinza, esquisito...

Parecia que a cidade chorava.

Uma angústia, 

uma dor coletiva, 

mas, uma dor amorosa. 

Não um lamento. 




Nunca participo desses velórios públicos, se o fiz no passado foi a trabalho, no exercício da função de jornalista. 

Hoje, quis ir. Pessoal e profissionalmente, despedir-me da "mais completa tradução" da cidade.


O lugar escolhido não poderia ter sido mais adequado: o Planetário do Parque do Ibirapuera! 

Parecia que uma nova estrela brilhava na escuridão daquele espaço.




Até o meio-dia, apesar da chuva, mais de mil pessoas haviam passado por ali. Depois o sol abriu, e haviam mais cinco horas de cerimonial.






Pelo caminho, pude testemunhar algumas jornadas de fãs, a diversidade da raça humana que tem algo em comum: Rita Lee. A maioria caminhando sozinha, pessoas que fizeram questão de prestar a ultima homenagem, assim como eu. 

Os sinais de que Rita Lee imortalizou estava nos detalhes das roupas, dos óculos, dos cabelos, do som baixo no celular. Nos rostos tranquilos, apesar de entristecidos, por saber que Rita vive em versos, acordes, voz e tudo o mais.

As adolescentes cariocas aprenderam a ouvir e tornaram-se fãs através dos pais; 

O educador com restrição de mobilidade veio de longe, apesar das muletas enquanto espera a cirurgia de quadril ser liberada pelo SUS, garantiu que a roda de samba de sábado terá a cuíca chorará os versos de Rita Lee; 

A inglesa que aprendeu que o Brasil também é bom de rock'n roll;

Até o segurança, paulista da Bahia, confessou ser fã e a canção preferida é Ovelha Negra.



Não ouvi choros, ninguém escandalizou. 

De quando em quando um coro de vozes cantava... O verso ficou:

"Agora só falta você...".

Foi um até breve tranquilo. Até o espírito de Rita Lee agiu para romper as regras da hegemonia (mas isso fica para outra história).

Rita, que nunca tive o prazer de entrevistar, remete a uma amiga querida, que estará sempre junto, mesmo distante. 

Para ela, parafraseio Chico:

A Rita deixou de herança o meu sorriso em cada acorde seu que eu ouvir...







terça-feira, 9 de maio de 2023

Celebrando as vidas de David Miranda e Rita Lee

#dojardimqueomeuamorplantouprámim

Meu Deus, que dia triste!

Duplamente impactada com dois seres humanos especiais, que partiram tão cedo... 

Primeiro, recebemos a notícia da morte de #DavidMiranda, aos 37 anos, e na sequência a passagem da musa #RitaLee, aos 75. 

Ele nos deixou a batalha pelo direito ao amor, à família, à política dos bons e justos. Uma vida curta com tantos significados, nos atualizando nas causas a abraçar. 

Ela é aquela que me fez transgredir. Mostrou-me caminhos a trilhar, a dançar, a resistir, envelhecer.

Tudo o que eu escrever será pouco. 

Demasiadamente pequeno frente ao gigantismo desses dois artistas do viver.

Ah, Rita...

Qual das suas canções me marcou mais? 

Impossível dizer. 

O show, sem dúvida, Mania de Você, na adolescência. O álbum e música, Saúde, quando você me ensinou a não tolerar mais "leroleros", ensinando-me a "cuidar mais de mim".

David...

Qual o principal ideal a lutar? Todos, mas sobretudo àqueles relacionadas aos #direitoshumanos. Por todos, todas e todes.

Rita e David, com os seus pares perfeitos, #RobertodeCarvalho e #GlennGreenwald nos mostraram que amar faz bem. 

Ensinaram-nos que o amor é o melhor caminho. 

Que todas as maneiras de de amor vale viver...

David tinha pressa, pois teve pouco tempo. Morreu na véspera do aniversário, deixando uma sensação de quero mais...

Foto: reprodução web

Rita viveu seus últimos anos imersa na natureza, plena em sabedoria madura.

Foto: reprodução web

Enquanto viva, "cheia de graça", Rita me fez - e a um mote de gente - feliz!

Os dois mostraram, em vida, que:

"Quem pode, pode... deixa os acomodados que se incomodem."

Vão em paz, geniais.

 









segunda-feira, 1 de maio de 2023

Feliz o povo brasileiro que tem um trabalhador na presidência

Lula, foto de GazetaViews/Rubens Gazeta

Celebro hoje o Dia do Trabalho e, consequentemente, o Dia do Trabalhador. Uma data de luta. Tempo de pausa para repensarmos a sociedade que pretendemos, e a importância da atividade laboral para alcançá-la.

Sempre penso, nos dias 1o. de Maio, naqueles que estão fora do mercado de trabalho, seja ele formal ou informal. Principalmente, nos desalentados, que desistiram na busca sucumbindo à sequência de nãos. 

Também reflito sobre o meu papel de mulher e mãe e formadora de opinião trabalhadora. Não, não estou satisfeita, mas orgulho-me de cada trabalho realizado.

Nascida numa família de comerciantes, o trabalho foi algo natural para mim -e meus irmãos. Tão logo aprendíamos a andar e falar assumíamos o nosso pequeno posto no balcão e atividades afins. Que bom que foi assim. 

Com o meu pai aprendi a respeitar o trabalhador e o seu trabalho, com minha mãe que não há recompensa sem esforço. Minha casa não tinha fachada, tinha portas de ferro. Não tinha jardim, tinha prateleiras.

Mas, eu queria ir além... Fui estudar, e descobri que nunca se estudou o bastante. E continuo a fazê-lo na certeza do trabalho a ser feito.

Neste 1o de Maio de 2024 eu festejo o governo popular, que resgatou a nossa democracia. Apesar de tanta dificuldade pelo que o Brasil se tornou. Poderíamos estar melhor, nós trabalhadores, não fosse a desconstrução de direitos que, vertiginosamente, desde o golpe de 2016, foi nos ceifando do conquistado. 

Feliz da vida, hoje, respiro aliviada. Nem quero pensar como teria sido diferente se o rumo da História recente do nosso país tivesse sucumbido aos golpistas.

Sinto-me privilegiada por ser representada por um presidente trabalhador. A história pessoal de Lula o dignifica, da infância aos dias atuais.

Inspira-me a continuar resistindo, lutando e divulgando a luta por direitos trabalhistas. Motiva-me a continuar me expondo pessoal e nas mídias ao defender os ideais que acredito. Aguça-me a olhar para outros universos laborais, que precisam ser incluídos. 

Dedico este 1o de Maio aos migrantes, à mulher imigrante, aos refugiados, aos cidadãos do mundo que buscam um lugar para chamar de seu nesse Brasil. 

Agradeço aos aposentados, pelo que foi realizado e solidarizo-me com aqueles que estão trabalhando e, se a lei for cumprida, receberão dobrado.

Torço pelo jovens, para que eles entendam que empreendedorismo, na maioria das vezes, é sinônimo de precarização, exploração e abandono. Como Gramsci, eu realmente odeio os indiferentes.

Vida o trabalhador brasileiro!

Não há inteligência artificial que substitua as pessoas. Afinal, a máquina foi criada por alguém.


As boas práticas que temos de aprender com a Bolívia para neutralizar os golpistas

  Fotos: reprodução (Correo de Sul e Alerta 24 News) Uma tentativa de golpe militar frustrada na Bolívia surpreendeu o mundo, na tarde de qu...