segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

O olho nada amigo da ABIN

arte: Laerte

Não me canso de ser surpreendida pela família do ex-presidente do Brasil, codinome "familícia".

Após ser desvelado o escândalo da ABIN - Agência Brasileira de Inteligência - paralela, fiquei estupefata com as "notícias fresquinhas" recebidas na manhã de segunda-feira (29) de que um dos filhos, Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro (Republicanos), continuava tendo acesso às informações que deveriam ser restritas à inteligência (só que não), um ano após o patriarca ter se recusado a passar a faixa presidencial para o seu sucessor, presidente Lula, eleito democraticamente.

Que poder é este que se mantém mesmo após Jair ter se tornado inelegível?

Depois de um longo silêncio, o clã voltou a tona, ou melhor, ao ambiente virtual, para falar aos seguidores.

Na super-live - ah, esta mania de se americanizar- mostrou a que veio: usou a camisa de Israel.


Israel, aliás que está no centro do debate: não apenas pela prática genocida em forma de guerra, mas porque a empresa responsável pela investigação ilegal, e que dá acesso às informações  (que deveriam ter direcionamento restrito  ao filho número 2 e sabe-se quem mais.

Como tem público e eleitores e patriotários para tudo, o bate-papo reuniu mais de 470 mil pessoas online, apesar de no início e final serem em torno de 50 mil.

Mesmo assim muita audiência para um domingo a noite...

Agência nem tão inteligente assim
  
Saber que 30 mil brasileiros estavam sendo monitorados e rastreados por uma empresa de Israel, paga com dinheiro público, é demais para mim.

Assim como é demais para mim saber que tem militar encaroçando este angu.

Durante os quatro anos de poder do pai, filho, filho, filho e filho, seriam os militares o espírito santo dessa seita com fins lucrativos?

Tememos tanto o golpe militar, mas parece-me que os "milicos" sempre estiveram lá, ocupando o poder real, nem tanto nas sombras assim.

Teria sido Bolsonaro um mero instrumento?

A ganância de poder tomou conta do ex-presidente, ou o ex-presidente foi apenas uma estratégia militar?

Há muito a ser esclarecido.

Queríamos, os que não votaram no negacionismo e no obscurantismo, que a apuração da real dimensão do caos que assolou o Brasil durante quatro anos (sem falar no período Temer e campanha eleitoral) fosse mais rápido, mas, talvez, a morosidade também tenha sido calculada estrateficamente para não gerar o espírito de revanchismo.

Imagino quanto informação foi vazada, usada em benefício próprio, foi utilizada para gerar a tal "arte da guerra" do vale tudo.

Quem vai pagar pelos processos e prejuízos?

Ansiosa pelas cenas dos próximos capítulos, sinceramente espero que caiam todos: juízes, políticos, militares, empresários e toda a parentada envolvida. 

Aqui e em Israel.

#semanistia #foigolpe

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

A nova tortura acontece nas redes digitais

Ilustração: Intervozes


A verdade verdadeira, como diria meu pai, virou ponto de vista,

Com direito à calúnia e difamação.

Sem punição.

Caiu na rede, é sacrificado: 

seu perfil devastado, 

você é xingado,

seu nome é alvo do teclado e da tela maldita que fomenta a Internet.




Má fé ou ignorância?

O internauta que compartilha uma ideia ou notícia geralmente acredita nela. 

Afinal, está escrito, foi fotografado, filmado.

Desinformação ou ignorância?

A maioria dos usuários das mídias digitais não sabem discernir a verdade da mentira,

parte deles têm interesses na inverdade e sabem os meios de fazer os demais acreditarem.

"Existimos, a que será que se destina", bebendo da fonte das boas ideias de Caetano.


Revisitando o passado recente

Não estou escrevendo nenhuma novidade aqui, muito pelo contrário, mas tenho percebido que uma nova onde de ódio vem assolando as mídias digitais..

Quando o ex-presidente lançou sua candidatura, num passado recente e devastador, a internet virou campo de batalha. 

Ao ser eleito, a guerra foi deflagrada, com direito ao armamento pesado das fakenews.

Impossível, então, saber de onde elas eram lançadas, pois a terra brasilis conheceu o fenômeno da multiplicação do gado - e dos bots- que, sob o cabestro da desinformação, foi para a artilharia da desinformação.

Naquela época, era impossível, para quem militava contra, passar impune.

Eu, na ocasião, sofri linchamento numa rede profissional, o Linkedin, onde era mais difícil  entender -e controlar- os ataques, apesar das denúncias mil e da solidariedade dos pares.

Aos poucos o Facebook virou universo paralelo das notícias e o  whatsapp viralizou como praga na contaminação familiar, desintegrando relações.

De lá para cá aprendemos muito sobre esse mundo distópico, discutimos os limites da Inteligência Artificial, mas a regulamentação das plataformas ainda é ficção.

Se uma fofoca nos afeta muito, o compartilhamento destas destrói vidas.

Sim ,tem gente morrendo em consequência da manipulação da informação.

A mentira virou verdade.

a verdade virou ilusão.

Caiu na rede deste mar sem fim é fisgado.


Da maldade nossa de cada dia nos livrai hoje

Denuncie as fakenews

O alvo preferencial no Brasil é o padre Júlio Lancellotti

Tudo o que ele faz e diz vira notícia, e polêmica, e fakenews.

Uma das personagens mais expressivas da atualidade, no Brasil, é claro, ele ganhou a mídia.

Toda boa ação praticada vira reportagem - ou post nas mídias digitais, desvelando o Bem e o Mal, que tem lado, dependendo da ideologia.

Toda semana uma nova polêmica, sempre potencializada pelo julgamento de valores, que está associado à transformação comportamental associada ao passado recente.

Mas por que atirar pedras, ops fakenews, contra o homem santo?

Ele cuida dos indesejáveis.

Ele toca nas chagas abertas da América Latina...

Só para resumir o roteiro da ópera.

Quanto mais o padre Júlio se torna um homem público- sim, ainda tem muita gente que não conhece a sua vida e obra - mais ele é exposto.

Além de religioso, ele é um idoso que precisa ser protegido por cuidados, ações, pensamentos e orações.

Padre Júlio é alvo preferencial da direita no Brasil, mas a desinformação que "move o Sol e os outros planetas", são as fakenews, e não o amor, como prefere Dante.

As eleições municipais e a disputa de poder em São Paulo são um prato cheio para os debates na rede...

Infelizmente, o nosso santo vivo, como eu o descrevo, parece ser o tempero que agrada os dois lados.

Afinal, a Internet é um saco sem fundo lucrativo e tomos nós fomentamos essa rede de ilusões.

Na dúvida,

Post como se fora a si mesmo.



#Nãocompartilheodio

#denuncieasfakenews

#regulamentaçãojá






 


 

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Sobre Leilas, Martas, futebol e jornalismo

Foto: Reprodução web

Lembro-me da minha primeira entrevista num campo de futebol. 

Foi no Estádio do Morumbi, em São Paulo, nos anos 1990.

Não eram tempos de Arena, nem de Morumbix.

Uma pauta voltada à prática da medicina esportiva, associando futebol profissional à saúde e como os achados científicos poderiam beneficiar os amadores.

Como não era setorista, não fui trajada adequadamente: 

estava de vestido e sandália em meio ao gramado.

Paguei um mico.

Houveram outras, em pautas diversas.

Na Arena Corinthians - sobre o gramado da Copa do Mundo- de novo no Morumbi, sobre as profissionais de Asseio e Conservação dentre as que mais me marcaram.

As mais bacanas foram feitas nos campos de várzea, quando eu atuei como jornalista sindical.

As torcidas lado-a-lado na arquibancada, homens e mulheres de todas as idades cantando, vibrando, chorando, xingando, aplaudindo, pró e contra, numa rivalidade de vizinhos da periferia paulistana.

Faziam festa tanto para o vencedor quanto para o perdedor.

Confesso que do futebol gosto mais da cultura em torno dele, das histórias, memórias e menos do que ele se tornou: uma mercadoria.

Em casa, eu torço com a maioria, Palmeirense.

Sempre lembro do meu pai, sãopaulino, pedindo: não torce contra!

.

Polêmica à vista


Também desgosto das torcidas únicas, tal a presidenta do Palmeiras.

Talvez, por isso, não curti muito a entrevista coletiva exclusiva para jornalistas mulheres.

Sou feminista, já sofri assédio sexual e misoginia no ambiente de trabalho, como tantas colegas jornalistas e profissionais das demais áreas.

Sempre denunciei e compartilhei as minhas experiências.

Os assediadores não são maioria.

Mas, na luta diária pelo reconhecimento do feminino nos confrontamos com o "machismo estrutural" da sociedade patriarcal.

Por isso, acredito, precisamos conviver, pessoas de todos os gêneros e identidades, para que as trocas corroborem para as mudanças que desejamos.

Eu teria apoiado a decisão da Leila Pereira se ela tivesse aproveitado a tal "entrevista coletiva histórica" para debater a questão do feminino no esporte, lançar uma pauta feminina para o Palmeiras e até mesmo campanhas e planos profissionais e acadêmicos pela valorização do trabalho da mulher.

Tanto o trabalho doméstico invisibilizado até, quem sabe, promover ações de conscientização?

Sabemos que os jogos do Palmeiras recebem muitas mulheres, mas ainda falta muito para que os clubes brasileiros se tornem ambientes seguros para a torcedora, por exemplo.

Leila, acredito, poderia usar a sua posição de empresária do esporte e segmento econômico num propósito?

Leila tem poder econômico, profissional, midiático para isso.

A entrevista me pareceu autopromocional.

Como presidenta do Palmeiras, Leila poderia ter falado menos sobre si mesma, ter de ter ido disso.

Aliás, é preciso ressaltar que outras mulheres (não estou comparando competências,  a presidenta do Palmeiras mostrou ser capaz) já presidiram clubes de futebol no Brasil, como Marlene Matheus, do Corinthians, e Patrícia Amorim, do Flamengo.

Como empresária, Leila sabe muito bem o valor de uma marca, de um nome e de cada centímetro publicado na imprensa ou compartilhamento e repercussão nas mídias.


Outra mulher está fazendo história no futebol


Dentro de Campo.

Internacionalmente.

A jogadora Marta, a "Rainha Marta", depois de ser eternizada  no Museu de Cera Madame Tussauds, terá sua imagem associada às grandes atletas do futebol feminino.

O Prêmio Marta, criado pela FIFA, será entregue à jogadora que fizer o gol mais bonito da temporada, anualmente.

Não foi nada fácil para a atleta brasileira chegar onde chegou...

O futebol feminino no Brasil ainda é cercado de polêmicas e recebe menos financiamento e divulgação do que merece,

Marta literalmente chutou o machismo  a cada gol que marcou.

Mas por que associar Leila a Marta?

Eu acredito que a luta pela valorização da mulher na sociedade se faz individual e coletivamente.

Incluo aí homens e mulheres cis, homens e mulheres transgênero, homens e mulheres bissexuais e todes mais.

Afinal, é na convivência -e leis protetivas até que necessário- que alcançaremos a tão desejada igualdade de oportunidades.

Equidade? 

O que cada um de nós precisa, deseja, merece?

Eu sonhos com um mundo onde todes possamos escolher, nos manifestar, se desenvolver.

É claro, para pessoas da diáspora negra, com baixa escolaridade, estagnadas na base da pirâmide social, migrantes a luta é desigual.

Mas, falando em jornalismo:

De acordo com o "Perfil do Jornalista 2021", que estudou as "características sociodemográficas, políticas, de saúde e do trabalho do jornalista brasileiro":

"Mulheres brancas, solteiras e na faixa etária até 40 anos" são a maioria dos profissionais que exercem o jornalismo no Brasil.

A pesquisa também concluiu que:

- a profissão jornalista é majoritariamente feminina;

- o percentual de jornalistas negros e negras (pretos e pardos) superou 30%;

- apesar de uma presença significativa de jovens, aumentou a presença de jornalistas na faixa etária acima de 40 anos.

É claro, nem toda esta diversidade está atuando na imprensa hegemônica, mas é real a presença dos profissionais na imprensa alternativa, periférica, na institucional, nas empresas, além das mídias digitais, tanto na frente ou detrás das câmeras e microfones.

Outras pesquisas mostram que as mulheres estão estudando mais, e consequentemente superando os colegas homens na academia, nas universidades, embora ainda sejam minoria nos espaços de poder.

Eu ia falar de Leila Diniz e Martha Suplicy, mas já polemizei demais para uma postagem..

Fica para a próxima.


domingo, 7 de janeiro de 2024

"Eles não vão desistir ... Nós vamos resistir"

 

Charges: Reprodução web


Foi assim que o nosso santo vivo, o #padreJúliolancellotti", se pronunciou na missa de hoje, domingo, dia sete de janeiro. 

Ele mais ouviu do que falou durante a celebração  da Festa da Epifania do Senhor.

Durante a missa, que seria um momento de convocação à Fraternidade e à Justiça, pelo calendário católico, o bispo da região Belém, de São Paulo, D. Cícero, acompanhado pelo bispo de Cachoeiro do Itapemirim, do Espírito Santo, D. Luiz Fernando, padres, religiosos e representantes de associações e diversas pastorais, além de políticos, amigos, fiéis e seguidores, na verdade foi um momento de  celebração à vida e a obra de padre Júlio.

Eu imaginava que após dias seguidos de manifestações, manifestos, abaixo-assinados, reportagens, testemunhos e até dissidências desde o anúncio da #CPI onde o talzinho vereador levaria o religioso a depor na #CãmaraMunicipaldeSãoPaulo na força, mesmo que "amarrado", não haveria mais a falar a respeito, mas ainda há muito a ser dito.



Na mesma medida em que padre Júlio é atacado ele é reverenciado;

Na mesma proporção que alguns falam o nome dele em vão ele é homenageado oficialmente;

Na mesma intensidade que o ódio de espalha o amor se impõe.

Padre Júlio desvela as mazelas do mundo...

Parece inabalável, mas não é.

Surpreende que, a cada ação intimidadora, mais pessoas descubram a força e a coragem deste ser humano.

Mas, tanta coragem é forjada na dor.

Basta ver como o padre Júlio está impactado:

No seu semblante cabisbaixo, 

na sua voz embargada, 

na humildade em sentar enquanto outro religioso ocupa o seu lugar no púlpito, mesmo honrando-o.

E, principalmente, se preparando para um novo ataque, pois a rede do ódio não para de inventar #Fakenews e promover #desinnformação.


Por que tanto ódio?



Prefiro pensar não ser algo pessoal, contra o homem santo, mas pelas causas que ele defende.

Padre Júlio sempre foi a voz dos "pequenos, dos fracos", do povo oprimido, população que aumentou demasiadamente desde o golpe de 2016 e extrapolou todos os limites da decência no pós-pandemia. 

Prefiro acreditar que o povo brasileiro não é tão ruim por querer matar, literal e figurativamente, um padre, embora já tenhamos precedentes.

Parece-me que o ódio é pelo que o padre Júlio desvela: 

a pobreza no país da abundância;

a dor no país do carnaval;

o pecado no país antes amoroso.

Refletindo, aqui, penso que as construções culturais e ideológicas são orquestradas...

Quando criança, foi me ensinado a temer os mendigos. Àqueles homens, sim, na maioria eram pessoas do gênero masculino, que vagavam pelos lugares carregando sacos, sujos, maltrapilhos, mendigando um prato de comida.

Adolescente, ao questionar, muitos me disseram para evitar os que "Deus marcou". Nessa caso, pessoas com algum tipo de deficiência física ou intelectual, que eram abandonados pelas famílias, ou não se adaptavam às regras impostas, como se fossem enjeitados até mesmo pelo misericordioso.

Adulta, tudo se explicava pelo conceito da meritocracia:

Afinal, são "vagabundos" que não querem trabalhar, não se esforçam, não têm dignidade própria, dizem os excludentes.

Ultimamente, é claro, a culpa é do #Lula, que garante o #BolsaFamília, promovendo a miserabilidade e a vagabundagem.

A partir daí o discurso moraliza-se:

São drogados, são bêbados, são vagabundos, são ralé, são gays, prostitutas, ou filhos dessas...


Distâncias ideológicas



A pobreza é um fenômeno multifatorial, diverso e que cresce em todo o mundo.

Sobretudo em países como o Brasil, onde a pirâmide social tem base e topo infinitos, materializado na distância econômica.

Mas também é projeto político nesse universo globalizado neoliberalizado.

Aprendi que não podemos ajudar todos, o que o padre Júlio tenta fazer, mas que podemos ajudar muitos entre aqueles que cruzam o nosso caminho.

Seja com alimentos, roupas, dinheiro ou afeto.

Um olhar, como lembra o padre Júlio, é transformação^quando a #pessoaemsituaçãoderua deixa a invisibilidade mesmo que por alguns momentos...

Mas, quem não pode ajudar, ajudaria muito não criminalizando, julgando e promovendo o desafeto.

Respeite o padre Júlio, que é o nosso santo vivo.


"A pressão é muito forte, poucas vezes vista... 

Quando não há argumentos tentam destruir o interlocutor...

Eles não vão desistir...

nós vamos resistir...

Somos a Igreja dos mártires, seguidores de Jesus.

A Igreja de D. Paulo, D. Luciani. D.Angelico, D. Celso.

que luta e continua lutanto"

Padre Júlio Lancellotti



segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

A esperança que nos move

Arte: Reprodução web

Primeiro dia do novo ano. 

Uma segunda-feira: 

a semana será curta!

Ontem, no ultimo dia do ano passado, a meia-noite demorou a chegar.

Deu sono.

Mesmo tendo jantado mais tarde do que de costume.

Nesse descompasso, minha memória me pegou de surpresa.

Rememorei a minha adolescência, dos tempos da cidade do interior, que costumo chamar de "minha Macondo", onde estou agora...

A virada do ano era marcada pelo Baile de Reveillon, no clube local.

Sociedade Recreativa que não existe mais: virou uma loja de eletrodomésticos, no ponto central da cidade.

Naquela época:

"senta que lá vem história"...

As pessoas, sócios (quase todos mundo) e seus convidados preparavam-se para o grande evento.

Não era de gala, mas as pessoas vestiam a melhor roupa e o melhor sorriso.

Chegavam por volta das 23h, alguns tinham mesa reservada (comprada para a ocasião, com direito à Sidra) e circulavam pelos lugares, nas escadarias, na pista de dança, namoravam na sacada, abasteciam-se no bar (no final da noitada um sanduiche, o bauru paulistano: pão francês recheado com presunto (ou carne) queijo e tomate era a saideira).

Podíamos caminhar vestidos de festa pela cidade, pois a maioria morava perto.

Pensando aqui, era (quase) democrático.

Ricos e pobres, jovens e idosos se reuniam. Menores só entravam acompanhados, ainda assim, com mais de 14 anos.

Todes se conheciam, de uma forma ou de outra, mesmo por cordialidade/conveniência,

e os "estrangeiros" eram celebrados como novidade pelos solteiros.

Poucos segundos antes da meia-noite, os músicos, com toda a pompa e circunstância que o momento merecia, orquestravam a contagem regressiva rumo ao novo ano.

aos sonhos a serem realizados

à celebração das conquistas.

10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2,1

"Feliz Ano-novo!

Adeus Ano velho,

Que tudo se realize...

Muito dinheiro no bolso,

saúde prá dar e vender..."

E as pessoas sorriam, se abraçavam!

Um contraponto "à Paz de Cristo" das missas do Galo, que começavam as 22h permitindo o brinde coletivo.

Afinal,

"Hoje a festa é (ra) sua, nossa, de quem quiser..."

E a noitada terminava em marchinhas de carnaval.


Fogos no céu, apesar de proibidos

2024 chegou na intimidade dos lares, das casas, dos condomínios fechados e de alguns bares.

Vemos as celebrações pelas mídias digitais, onde os abraços e os votos são compartilhados virtualmente.

As festas acontecem no privado,

sinalizando, inclusive, solidões, pelo teor e horário das postagens no whatsapp.

Mas,

no céu:

os fogos de artifício, aqueles que criticamos por solidariedade aos cachorros e outros animais; que criticamos pelo desperdício de recursos financeiros, são o único sinal democrático da festa.

Ah, tem também a música do vizinho, que não percebe que não queremos ouvi-la, pois incomoda o nosso silêncio, assim como tentamos dormir apesar dos gritos bêbados, alterados dos mesmos.

Não choveu esta madrugada, e os quintais encheram-se de energia para aqueles que têm espaço restrito na sala.

Não há troca de presentes na passagem do ano...

Há sonhos a realizar

Vi um post, hoje de manhã, onde um artista argentino brinca com o perigo que os desejos dos divergentes se realizem.

A minha xará, também argentina, manda-me votos lindos, ao mesmo tempo triste e bem-humorado, onde, num vídeo, cantores (e orquestra) brincam com a própria sorte:

"Brindo o que eu já tive, porque já não tenho nada."

Penso nos palestinos...

Eu celebro 2023 pela reconquista da democracia,

sei como é difícil conviver com os rompimentos.

Eu celebro 2024 pelo fortalecimento da democracia, pois sei o quanto ela é frágil e impacta as nossas vidas.

Que 2024 seja como a mistura de seus número, remetendo ao infinito.

Para quem acredita:

que Aquário torne possível o impossível; a ruptura com velhos padrões.

Feliz Ano-Novo!



#MarielleFranco nos ensina como enfrentar a realidade

  Fotos: #InstitutoMarielleFranco Confesso que caíram lágrimas dos meus olhos, uma sensação estranha de alívio... porém de tristeza.  O dia ...