Arte: Reprodução web |
Primeiro dia do novo ano.
Uma segunda-feira:
a semana será curta!
Ontem, no ultimo dia do ano passado, a meia-noite demorou a chegar.
Deu sono.
Mesmo tendo jantado mais tarde do que de costume.
Nesse descompasso, minha memória me pegou de surpresa.
Rememorei a minha adolescência, dos tempos da cidade do interior, que costumo chamar de "minha Macondo", onde estou agora...
A virada do ano era marcada pelo Baile de Reveillon, no clube local.
Sociedade Recreativa que não existe mais: virou uma loja de eletrodomésticos, no ponto central da cidade.
Naquela época:
"senta que lá vem história"...
As pessoas, sócios (quase todos mundo) e seus convidados preparavam-se para o grande evento.
Não era de gala, mas as pessoas vestiam a melhor roupa e o melhor sorriso.
Chegavam por volta das 23h, alguns tinham mesa reservada (comprada para a ocasião, com direito à Sidra) e circulavam pelos lugares, nas escadarias, na pista de dança, namoravam na sacada, abasteciam-se no bar (no final da noitada um sanduiche, o bauru paulistano: pão francês recheado com presunto (ou carne) queijo e tomate era a saideira).
Podíamos caminhar vestidos de festa pela cidade, pois a maioria morava perto.
Pensando aqui, era (quase) democrático.
Ricos e pobres, jovens e idosos se reuniam. Menores só entravam acompanhados, ainda assim, com mais de 14 anos.
Todes se conheciam, de uma forma ou de outra, mesmo por cordialidade/conveniência,
e os "estrangeiros" eram celebrados como novidade pelos solteiros.
Poucos segundos antes da meia-noite, os músicos, com toda a pompa e circunstância que o momento merecia, orquestravam a contagem regressiva rumo ao novo ano.
aos sonhos a serem realizados
à celebração das conquistas.
10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2,1
"Feliz Ano-novo!
Adeus Ano velho,
Que tudo se realize...
Muito dinheiro no bolso,
saúde prá dar e vender..."
E as pessoas sorriam, se abraçavam!
Um contraponto "à Paz de Cristo" das missas do Galo, que começavam as 22h permitindo o brinde coletivo.
Afinal,
"Hoje a festa é (ra) sua, nossa, de quem quiser..."
E a noitada terminava em marchinhas de carnaval.
Fogos no céu, apesar de proibidos
2024 chegou na intimidade dos lares, das casas, dos condomínios fechados e de alguns bares.
Vemos as celebrações pelas mídias digitais, onde os abraços e os votos são compartilhados virtualmente.
As festas acontecem no privado,
sinalizando, inclusive, solidões, pelo teor e horário das postagens no whatsapp.
Mas,
no céu:
os fogos de artifício, aqueles que criticamos por solidariedade aos cachorros e outros animais; que criticamos pelo desperdício de recursos financeiros, são o único sinal democrático da festa.
Ah, tem também a música do vizinho, que não percebe que não queremos ouvi-la, pois incomoda o nosso silêncio, assim como tentamos dormir apesar dos gritos bêbados, alterados dos mesmos.
Não choveu esta madrugada, e os quintais encheram-se de energia para aqueles que têm espaço restrito na sala.
Não há troca de presentes na passagem do ano...
Há sonhos a realizar
Vi um post, hoje de manhã, onde um artista argentino brinca com o perigo que os desejos dos divergentes se realizem.
A minha xará, também argentina, manda-me votos lindos, ao mesmo tempo triste e bem-humorado, onde, num vídeo, cantores (e orquestra) brincam com a própria sorte:
"Brindo o que eu já tive, porque já não tenho nada."
Penso nos palestinos...
Eu celebro 2023 pela reconquista da democracia,
sei como é difícil conviver com os rompimentos.
Eu celebro 2024 pelo fortalecimento da democracia, pois sei o quanto ela é frágil e impacta as nossas vidas.
Que 2024 seja como a mistura de seus número, remetendo ao infinito.
Para quem acredita:
que Aquário torne possível o impossível; a ruptura com velhos padrões.
Feliz Ano-Novo!
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