segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

A esperança que nos move

Arte: Reprodução web

Primeiro dia do novo ano. 

Uma segunda-feira: 

a semana será curta!

Ontem, no ultimo dia do ano passado, a meia-noite demorou a chegar.

Deu sono.

Mesmo tendo jantado mais tarde do que de costume.

Nesse descompasso, minha memória me pegou de surpresa.

Rememorei a minha adolescência, dos tempos da cidade do interior, que costumo chamar de "minha Macondo", onde estou agora...

A virada do ano era marcada pelo Baile de Reveillon, no clube local.

Sociedade Recreativa que não existe mais: virou uma loja de eletrodomésticos, no ponto central da cidade.

Naquela época:

"senta que lá vem história"...

As pessoas, sócios (quase todos mundo) e seus convidados preparavam-se para o grande evento.

Não era de gala, mas as pessoas vestiam a melhor roupa e o melhor sorriso.

Chegavam por volta das 23h, alguns tinham mesa reservada (comprada para a ocasião, com direito à Sidra) e circulavam pelos lugares, nas escadarias, na pista de dança, namoravam na sacada, abasteciam-se no bar (no final da noitada um sanduiche, o bauru paulistano: pão francês recheado com presunto (ou carne) queijo e tomate era a saideira).

Podíamos caminhar vestidos de festa pela cidade, pois a maioria morava perto.

Pensando aqui, era (quase) democrático.

Ricos e pobres, jovens e idosos se reuniam. Menores só entravam acompanhados, ainda assim, com mais de 14 anos.

Todes se conheciam, de uma forma ou de outra, mesmo por cordialidade/conveniência,

e os "estrangeiros" eram celebrados como novidade pelos solteiros.

Poucos segundos antes da meia-noite, os músicos, com toda a pompa e circunstância que o momento merecia, orquestravam a contagem regressiva rumo ao novo ano.

aos sonhos a serem realizados

à celebração das conquistas.

10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2,1

"Feliz Ano-novo!

Adeus Ano velho,

Que tudo se realize...

Muito dinheiro no bolso,

saúde prá dar e vender..."

E as pessoas sorriam, se abraçavam!

Um contraponto "à Paz de Cristo" das missas do Galo, que começavam as 22h permitindo o brinde coletivo.

Afinal,

"Hoje a festa é (ra) sua, nossa, de quem quiser..."

E a noitada terminava em marchinhas de carnaval.


Fogos no céu, apesar de proibidos

2024 chegou na intimidade dos lares, das casas, dos condomínios fechados e de alguns bares.

Vemos as celebrações pelas mídias digitais, onde os abraços e os votos são compartilhados virtualmente.

As festas acontecem no privado,

sinalizando, inclusive, solidões, pelo teor e horário das postagens no whatsapp.

Mas,

no céu:

os fogos de artifício, aqueles que criticamos por solidariedade aos cachorros e outros animais; que criticamos pelo desperdício de recursos financeiros, são o único sinal democrático da festa.

Ah, tem também a música do vizinho, que não percebe que não queremos ouvi-la, pois incomoda o nosso silêncio, assim como tentamos dormir apesar dos gritos bêbados, alterados dos mesmos.

Não choveu esta madrugada, e os quintais encheram-se de energia para aqueles que têm espaço restrito na sala.

Não há troca de presentes na passagem do ano...

Há sonhos a realizar

Vi um post, hoje de manhã, onde um artista argentino brinca com o perigo que os desejos dos divergentes se realizem.

A minha xará, também argentina, manda-me votos lindos, ao mesmo tempo triste e bem-humorado, onde, num vídeo, cantores (e orquestra) brincam com a própria sorte:

"Brindo o que eu já tive, porque já não tenho nada."

Penso nos palestinos...

Eu celebro 2023 pela reconquista da democracia,

sei como é difícil conviver com os rompimentos.

Eu celebro 2024 pelo fortalecimento da democracia, pois sei o quanto ela é frágil e impacta as nossas vidas.

Que 2024 seja como a mistura de seus número, remetendo ao infinito.

Para quem acredita:

que Aquário torne possível o impossível; a ruptura com velhos padrões.

Feliz Ano-Novo!



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