quinta-feira, 30 de maio de 2024

Gigante pela própria natureza... tão pequenina


Crédito: @izanio_charges
 "Deixem minha mãe em paz!", bradava a criança frente a três policiais -todos brancos.

A mãe, assustada, ouvia a voz da filha.

A cena da vida real, vinda lá da terra da liberdade, sqn, a América do Norte Global, chegou até mim pelas mídias digitais.

Aos brados a criança cobrava justiça.

Os adultos, olhavam e não se importaram, seguiram o "seu dever" de homens da lei, e prenderam a mulher, negra, claro.

A acusação: de que ela teria roubado um óculos de sol.

Uma testemunha dissera que uma mulher negra vestida com camiseta branca era a ladra.

A criança repetia: cadê a camiseta branca? Ela já usava um óculos escuros!

Mãe e filha vestiam  moda mamãe e filhinha: a jovem mulher, um vestido branco e a filha uma versão infantil de short e blusa. Os tênis combinando.

A explosão da pequena tocou-me a alma.

Raiva explicitando o #racismoestrutural (Almeida) ou #racismoinstitucional (Sodré).

O racismo real.

Tão pequenina, aprendendo a duras penas o que é ser preta e viver numa sociedade excludente, pois é racista.

No final da fala ela ameaça, o que me preocupou demasiado.

Qual a dimensão da trauma? O quanto impactará na vida da criança?

O que eu vi foi uma inversão de valores: a criatura defendendo a  cria; a filha defendendo a mãe; os adultos apequenados frente a uma menininha.

Confesso ser uma cena que ficará na história, tal como o assassinato de Jorge Floyd, a morte do bebê migrante Ayan Kurdi, a quase morte da menina vietnamita  atingida pelas armas Takashi Morita e as milhares de crianças mortas na Palestina e Rafah...

De uma maneira ou de outra, ao longo do tempo, a luta sempre é antirracista. Antisegregacionista.

E ninguém abraçou a pequena heroína...

E ninguém buscou amparar a pequena.

E ela ficou lá, defendendo o direito de frequentar lojas em paz com a mãe que Deus lhe deu, na terra onde o Mercado diz que acredita em Deus, a estátua sinaliza a liberdade, mas no dia-a-dia nada garante a vida decente.

  

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