Crédito: @izanio_charges |
A mãe, assustada, ouvia a voz da filha.
A cena da vida real, vinda lá da terra da liberdade, sqn, a América do Norte Global, chegou até mim pelas mídias digitais.
Aos brados a criança cobrava justiça.
Os adultos, olhavam e não se importaram, seguiram o "seu dever" de homens da lei, e prenderam a mulher, negra, claro.
A acusação: de que ela teria roubado um óculos de sol.
Uma testemunha dissera que uma mulher negra vestida com camiseta branca era a ladra.
A criança repetia: cadê a camiseta branca? Ela já usava um óculos escuros!
Mãe e filha vestiam moda mamãe e filhinha: a jovem mulher, um vestido branco e a filha uma versão infantil de short e blusa. Os tênis combinando.
A explosão da pequena tocou-me a alma.
Raiva explicitando o #racismoestrutural (Almeida) ou #racismoinstitucional (Sodré).
O racismo real.
Tão pequenina, aprendendo a duras penas o que é ser preta e viver numa sociedade excludente, pois é racista.
No final da fala ela ameaça, o que me preocupou demasiado.
Qual a dimensão da trauma? O quanto impactará na vida da criança?
O que eu vi foi uma inversão de valores: a criatura defendendo a cria; a filha defendendo a mãe; os adultos apequenados frente a uma menininha.
Confesso ser uma cena que ficará na história, tal como o assassinato de Jorge Floyd, a morte do bebê migrante Ayan Kurdi, a quase morte da menina vietnamita atingida pelas armas Takashi Morita e as milhares de crianças mortas na Palestina e Rafah...
De uma maneira ou de outra, ao longo do tempo, a luta sempre é antirracista. Antisegregacionista.
E ninguém abraçou a pequena heroína...
E ninguém buscou amparar a pequena.
E ela ficou lá, defendendo o direito de frequentar lojas em paz com a mãe que Deus lhe deu, na terra onde o Mercado diz que acredita em Deus, a estátua sinaliza a liberdade, mas no dia-a-dia nada garante a vida decente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário