Ilustração: Blog do Tarso |
Dê poder a uma pessoa que ela irá usar ao seu bel prazer.
Sem debate.
Na "canetada", sendo mais explícita.
A notícia divulgada neste sábado (20/7/2024), de que uma diretora de escola estadual da região do ABC Paulista quer mudar os rumos do modelo educacional vigente tem tudo para virar mais um caso de Justiça.
Literal e figurativamente.
A tal autoridade decidiu aderir às diretrizes da escola militarizada, defendida pelo governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
A questão é que a escola tem o nome de um dos mártires do Brasil, o jornalista Vladimir Herzog, talvez o maior símbolo das atrocidades cometidas no país, preso e morto pelos carrascos da ditadura militar, em São Paulo, em 25 de outubro de 1975
A diretora Cristiane Meire, que está a frente da unidade escolar, localizada no município de São Bernardo do Campo, berço do movimento sindical brasileiro e linha de frente no combate à ditadura militar, parece desconhecer a história de sua cidade, estado e pais.
Ou será que ela quer negar ou inverter os fatos? Reescrever a história?
Para nós, que defendemos a democracia, o modelo institucional de ensino escolhido pelo governador mais violento da atualidade brasileira é inconcebível.
Neste caso em particular, trata-se de insulto à memória de Vlado, mas também uma ameaça aos direitos dos alunos de estudarem numa escola sem ideologia doutrinária.
Vamos lembrar que o nome da escola foi uma homenagem a Vladimir Herzog: jornalista que trabalhava na TV Cultura, foi intimado a prestar depoimento à polícia e o fez espontaneamente, na certeza de que nada devia.
Foi andando e saiu morto.
Judeu, Vlado quase foi penalizado duas vezes, pois o Atestado de Óbito, forjado, registrava suicídio, o que contraria os preceitos da religião judaica.
Sabemos que foi uma farsa montada, com fotografia onde uma corda no pescoço de Vlado era a prova plantada.
Agora, quase 50 anos depois, o nome de Vlado pode ser relacionado à práticas antidemocráticas, numa escola onde sabe-se lá quem dará aulas no lugar dos educadores?
Há muito as aulas de religião e Educação Moral e Cívica foram excluídas das Diretrizes Básicas que norteiam a educação pública brasileira!
A família de Vladimir Herzog e o Instituto que leva o nome do jornalista manifestaram-se contra a decisão unilateral, da diretora.
A primeira, para que o nome de Vlado "não se associe a esta atrocidade".
O IVH, que se norteia pela defesa dos Direitos Humanos e da liberdade de expressão, tomou para si a luta de "impedir que esse projeto seja implementado na escola em questão".
Na ânsia de tratar-se de mais uma vítima desse momento desinformativo que vivemos, espero que a diretora reflita, dialogue com a sociedade e volte atrás nessa decisão.
Enquanto isso, esperamos as decisões da Justiça de São Paulo sobre o pedido, feito pelo Ministério Público e Defensoria Pùblica , de anulação do Projeto de Lei Complementar 9/2024, que regulamentou a instalação do Projeto de Escola Cívico-Militar no Estado de São Paulo, aprovado pelos deputados.
#DitaduraNuncaMais
#Lugardemilitarénoquartel
#vladovive
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