sábado, 20 de julho de 2024

Ignorância ou provocação: a diretora que confronta a história da democracia brasileira

Ilustração: Blog do Tarso

Dê poder a uma pessoa que ela irá usar ao seu bel prazer.

Sem debate.

Na "canetada", sendo mais explícita.

A notícia divulgada neste sábado (20/7/2024), de que uma diretora de escola estadual da região do ABC Paulista quer mudar os rumos do modelo educacional vigente tem tudo para virar mais um caso de Justiça.

Literal e figurativamente.

A tal autoridade decidiu aderir às diretrizes da escola militarizada, defendida  pelo governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

A questão é que a  escola tem o nome de um dos mártires do Brasil, o jornalista Vladimir Herzog, talvez o maior símbolo das atrocidades cometidas no país, preso e morto pelos carrascos da ditadura militar, em São Paulo, em 25 de outubro de 1975

A diretora Cristiane Meire, que está a frente da unidade escolar, localizada no município de São Bernardo do Campo, berço do movimento sindical brasileiro e linha de frente no combate à ditadura militar, parece desconhecer a história de sua cidade, estado e pais.

Ou será que ela quer negar ou inverter os fatos? Reescrever a história?

Para nós, que defendemos a democracia, o modelo institucional de ensino escolhido pelo governador mais violento da atualidade brasileira é inconcebível. 

Neste caso em particular, trata-se de insulto à memória de Vlado, mas também uma ameaça aos direitos dos alunos de estudarem numa escola sem ideologia doutrinária.

Vamos lembrar que o nome da escola foi uma homenagem a Vladimir Herzog: jornalista que trabalhava na TV Cultura, foi intimado a prestar depoimento à polícia e o fez espontaneamente, na certeza de que nada devia.

Foi andando e saiu morto.

Judeu, Vlado quase foi penalizado duas vezes, pois o Atestado de Óbito, forjado, registrava suicídio, o que contraria os preceitos da religião judaica.

Sabemos que foi uma farsa montada, com fotografia onde uma corda no pescoço de Vlado era a prova plantada.

Agora, quase 50 anos depois, o nome de Vlado pode ser relacionado à práticas antidemocráticas, numa escola onde sabe-se lá quem dará aulas no lugar dos educadores? 

Há muito as aulas de religião e Educação Moral e Cívica foram excluídas das Diretrizes Básicas que norteiam a educação pública brasileira!

A família de Vladimir Herzog e o Instituto que leva o nome do jornalista manifestaram-se contra a decisão unilateral, da diretora.

A primeira, para que o nome de Vlado "não se associe a esta atrocidade".

O IVH, que se norteia pela defesa dos Direitos Humanos e da liberdade de expressão, tomou para si a luta de "impedir que esse projeto seja implementado na escola em questão".

Na ânsia de tratar-se de mais uma vítima desse momento desinformativo que vivemos, espero que a diretora reflita, dialogue com a sociedade e volte atrás nessa decisão.

Enquanto isso, esperamos as decisões da Justiça de São Paulo sobre o pedido, feito pelo Ministério Público e Defensoria Pùblica , de anulação do Projeto de Lei Complementar 9/2024, que regulamentou a instalação do Projeto de Escola Cívico-Militar no Estado de São Paulo, aprovado pelos deputados.

#DitaduraNuncaMais

#Lugardemilitarénoquartel

#vladovive



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