quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Não são todos os homens, mas ainda são muitos homens

Imagem: reprodução (foto Benoit Peryruoq/AFP

Venho acompanhando, na medida do que é disponibilizado pela mídia, o julgamento do estupro coletivo realizado durante décadas, pelo marido - o déspota- francês.

1, 2, 3, 4, 5 x 10 + 12

72 homens diferentes violaram o corpo de uma mulher, que dopada pelo marido, inconsciente, não pode reagir. Quantos o fizeram mais de uma vez?

Homens entre 21 a 68 aceitaram o convite para gozar. E eles tinham consciência de que a mulher não o tinha. Em nenhum momento.

Décadas depois, com o crime desvelado, a consciência dessa mulher se rebelou contra os seus 72 algozes.

18 estão presos sob custódia, os demais? Ou não foram identificados, ou não foram encontrados. Ou seja, há mais de 50 estupradores soltos pela França, ou restante do mundo. Alguns dormindo com as esposas, namoradas, outros, talvez, fazendo novas vítimas.

Foram 10 anos de abuso sexual, descobertos por acaso, quando o estuprador foi identificado.

Je t'aime

Afirmou o francês #DominiquePélicot durante julgamento, ao confessar seu crime:

Eu sou um estuprador.

Recorreu às justificativas clássicas:

fui estuprado quando criança...

ela me traiu...

sou doente.

estraguei tudo, perdi tudo.

Desmentiu que fotografou a filha nua,

Mas, o fez.


Perversidade doméstica

Ex-mulher e filha acompanham o julgamento de cabeças erguidas, mas, creio, os corações em frangalhos.

E, um dos comparsas, que também está sendo julgado, confessou que se inspirou no amigo para estuprar também.

A fala vitimista do abusador é clássica.

A coragem de #GisèlePélicot e #CarolinePélicot é admirável.

Estes senhores se permitiram entrar na minha casa, não me violaram com uma arma apontada à cabeça. Me estupraram com toda a consciência. Por que não foram à delegacia? Até um telefonema anônimlo poderia salvar a minha vida.

(Gisèle Pélicot)

Os estupradores devem pegar até 20 anos de cadeia. O marido, de 71 anos, poderá sucumbir na prisão.

O que aprendemos com essa história perversa?

Muitas mulheres dormem com o inimigo. Isso mesmo. Quantas mulheres, esposas, filhas, namoradas, enteadas, empregadas doméstica ou com alguma relação de subalternidade são estupradas pela manhã, tarde, noite e madrugada?

Quantas mulheres são abusadas no caminho de ida ou volta do trabalho para casa e vice-versa?

Quantas meninas engravidam e não têm preservado o direito do #abortolegal?


Aos estupradores, prisão perpétua

Não acredito em pena de morte, não acredito em catração química.

Defendo o direito ao julgamento justo, mas também a tolerância zero aos crimes de estupro.

Todos são perversos.

Todos são planejados.

Todos ferem não apenas o corpo, mas a essência das mulheres abusadas.

Na cultura machista, patriarcal e colonialista que vivemos, o estupro é fonte de poder; é arma de guerra, e é praticado também contra homens, meninos, mulheres trans. Até mesmo as prostitutas são vítimas, tanto sexual quanto patrimonial.

Por isso, não vou me cansar de repetir.

Nenhuma violência é sinônimo de amar.

Quem ama, não ameaça, não violenta, não se torna um estuprador.

#Estuproécrimehediondo



 




segunda-feira, 16 de setembro de 2024

Sobre gírias, cadeiradas, masculinidades tóxicas



Imagens: reprodução web

Vergonha é o que eu sinto.

Confesso que não assisti ao debate realizado na #TVCultura, no domingo (16 de setembro).

Não tive vontade, porque não esperava uma conversa dialógica e emancipadora como deveria ser...


Lembro-me de cobrir debates históricos, como jornalista, nos tempos da #TVBandeirantes, quando os candidatos queriam falar ao eleitor, e não impulsionar likes nas mídias digitais.

Mas, também, dos cortes intencionais da #TVGlobo,que interferiram no resultado de eleições passadas.


Programas que promovem tudo menos propostas

A história da tal cadeirada está dando "pano para manga", numa lavagem de roupa suja que afunda a sociedade brasileira, sobretudo o eleitor de #SãoPaulo, no lodo da imundície. 


#Datena, como homem da comunicação, deveria saber que seria provocado, e assim, não acredito que a violência explicitada com a sua agressão tenha sido apenas resultado da impulsividade.

#Marçal estava de tocaia e, ao usar a gíria bandida para nomear estuprador, quando na verdade poderia recorrer às denúncias públicas de assediador, esperava uma reação irada do rival.

#Nunes beneficiou-se da edição das imagens, que o coloca como bom moço, mas na verdade é protegido pelo governador #tarsíciodefreitas, que seja com o seu projeto de desmonte da emissora pública, com perseguição aos jornalistas da casa, que tem sido demitidos, sob o silêncio de muitos colegas (da emissora e bancada do #RodaViva).

#Boulos é o meu candidato confesso a prefeito, ainda estou tentando processar como o caos do debate irá atingí-lo.

Lamento, sobretudo, a falta de projeção das candidatas, que representam o gênero quando os machos alfa falam das violências contra as mulheres, mas são apagadas no cenário político, isso quando não ameaçadas de todas as formas possíveis.

O mediador, o jornalista #LeãoServa já teve o seu momento de arremessador de objetos, num cenário parecido, no passado nem tão distante assim...


Perdemos todos, nós os eleitores

Há dias das eleições, que deve continuar no segundo turno, na capital paulista, vivemos um momento de indefinição, novamente dual do Bem contra o Mal, da esquerda contra a direita, do coletivo contra o individualismo.

Quanto tempo perdemos!

As próximas eleições têm tudo para se tornar um espetáculo de "show de horrores", e temos de correr atrás e recuperar cada minuto perdido,

Como?

A velha e boa abordagem corpo-a-corpo.

De eleitor para eleitor:

precisamos falar do Brasil que arde em chamas, 

que beira à porta do inferno.


#eleições2024 

sábado, 14 de setembro de 2024

O que fazer com a minha t-shirt favorita?

  
A camiseta 
 

Ou melhor, uma das minhas camisetas preferidas?



Minha filha, ainda criança, tinha uma camiseta com os dizeres estampados:

This is my favorite t-shirt.

Em algum momento eu a comprei, e ela vestia para passear, para brincar.

Lembro-me de pessoas comentarem, perguntarem para ela, se realmente era a camiseta favorita dela.

Claro que não. 

Mas era bonitinha: branca, simples, e vestia bem nela.

Esses dias não paro de pensar numa das minhas camisetas favoritas. Eu a comprei num dia muito especial, quando celebrávamos #VitorJara, num local de resistência, em #São Paulo, o #ArmazémdoCampo, junto à comunidade chilena.

Depois, usei-a num congresso acadêmico, sobre migrações.

Minha camiseta trazia um rosto de um homem preto, referência em Direitos Humanos e Cidadania, e parte daquele discurso proferido no dia da sua posse como ministro, que tanto me emocionou:

"Vocês existem e são valiosos para nós...".

Ao assumir o cargo de Ministro de Estado do governo popular o intelectual, que cunhou o conceito do #racismoestrutural , conseguiu tocar a minha alma. Sobretudo ao dizer que era "fruto de séculos de lutas e resistências de um povo que não baixou a cabeça mesmo diante dos piores crimes e horrores da nossa história". 

Como eu celebrei aquele dia, histórico, transformador.

Esperancei-me.

O sonho acabou com a realidade cruel

Estava fora do Brasil quando o presidente #Lula demitiu #SilvioAlmeida.

As notícias chegavam com "delay", próprio do fuso horário, mas na medida em que eu as lias, e me atualizava, mais eu me abalava.

Como assim? Não pode ser... Mas era verdade.

Aquele homem que ganhou a minha confiança e respeito era denunciado por assédio sexual, e não por uma, mas muitas mulheres. Os detalhes, sórdidos, doeram em mim.

Esperava que fosse mentira. 

Ansiei por um argumento sólido. Eu não julgaria sem provas...

Mas, o homem por trás do ministro mostrou-se des(humano) em suas atitudes. Replicou o modelo machista, e até na tentativa de se defender foi arbitrário. Atacou ao invés de se retratar. Sem argumentos, ousou tentar desautorizar a Ong #MeeToo.

O mais triste de tudo isso é saber que nem pessoas próximas, respeitáveis e de certa maneira "amigas" não estarão nunca ilesas de um possível assediador.

Seja moralmente, seja sexualmente, seja emocionalmente.

Eu também já fui vítima de assédios por pessoas que estava próximas, fui vítima de misoginia. Mais de uma vez.

Eu sempre denunciei, e eles, de certa maneira, ficaram impunes. 

Mas, felizmente, a roda do mundo gira e, hoje em dia, a tolerância é cada dia menor.

Como disse outro homem preto, um ativista social:

"Recuamos um século em um dia.".

É verdade.

O discurso foi tão bonito, com significados tão profundos!

Silvio Almeida parece ter esquecido da própria teoria, mas, com sua prática, mais uma vez, nos deu uma lição.

Não podemos retroceder um passo.

Não apenas para as mulheres, mas para as pessoas pretas, indígenas,  lgbtqiapn+, pessoas com deficiência, trabalhadores. 

Pessoas que continuam sendo valiosas...

Por serem gente.

Não podemos retroceder um passo.

#Machismo #Racismo #Assediador 

Não Passarão.

Não são todos os homens, mas ainda são muitos homens

Imagem: reprodução (foto Benoit Peryruoq/AFP Venho acompanhando, na medida do que é disponibilizado pela mídia, o julgamento do estupro cole...