segunda-feira, 29 de julho de 2024

Madres de Plaza de Mayo são patrimônio histórico imaterial

Fotografia de artesanato argentino (foto: autora)

Uma mulher chorando sozinha não comovia...

Duas mulheres conversando na praça foram consideradas perigosas...

Muitas mulheres decidiram marchar juntas,

e assim tornaram-se a voz daqueles que não conseguiam falar,

daqueles que foram violentamente calados,

daqueles que sequer conheciam as suas próprias histórias.

As mães argentinas ficaram conhecidas como as Mães da Praça de Maio, e tornaram-se o maior símbolo da resistência e do enfrentamento contra a ditadura, os ditadores, os opressores, desvelando os maus-tratos, a tortura, os sequestros, as mentiras que os perversos costumam contar.

Elas ousaram, no passado, desvelar a sordidez histórica,

No presente, não apenas como testemunhas, inspiram para a luta, mas como agentes da transformação social, instigam o povo argentino - e do mundo inteiro - ao confronto contra a opressão.

E, não deu outra: 

não demorou muito para o algoz atual, o presidente da Argentina, Javier Milei, tocar na ferida exposta.

Sabíamos que iria acontecer, mais cedo ou mais tarde, e agora ele tenta calar as vozes anciãs usando do poder político.

Explicando melhor: a #UNMA -Universidade Nacional Madres de Plaza de Mayo- sofreu a  intervenção econômica do Estado. Sem recursos, corre o risco de fechar as portas, o que pode acontecer com outras instituições, a exemplo do desmonte já realizado desde a posse. 

Comunicado oficial MPM

"Isto constitui uma gravíssima violação da autonomia universitária e um grave precedente à comunidade educativa e à educação pública". 

A alegação? As madres seriam um mau exemplo?.

Infelizmente, pouco se repercutiu, mundialmente falando..

Mas, de certa forma, àqueles que detém o poder atual têm razão em temer as madres.

Elas não nos deixam esquecer.

Elas nos instigam a contar.

Elas fomentam o debate 

Elas promovem a reação.

Elas mobilizam a comunidade frente às mazelas do governo reacionário.

Não à intervenção da UNMA!

Ao interventor, e ao seu mestre, o nosso repúdio.


  

Foto: Marcha na Plaza de Mayo (arquivo)

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Revista Imprensa Jovem instiga estudantes do ensino fundamental a pensarem a Economia

Reprodução da capa

Economês.

Um termo que surgiu quando um jornalista brasileiro, Joelmir Beting, decidiu traduzir os termos difíceis da economia para a linguagem jornalística.

De lá para cá a economia virou editoria, porém a linguagem midiática nem sempre é palatável aos leitores. Na maioria das vezes,  jornalistas falam para especialistas, sobre e para o Mercado Financeiro.

O desafio lançado aos estudantes de seis escolas da rede municipal de ensino da capital paulista foi pensar a economia do dia-a-dia. Aquela que afeta a qualidade de vida das pessoas comuns. Refletir, a partir da vivência familiar e individual, como a tal economia está inserida na rotina, mesmo de quem ainda está distante do universo das contas a pagar. 

Sobretudo, como praticá-la de forma consciente.

Num primeiro encontro, a "pauta comum" assustou os estudantes, em sua maioria da faixa etária dos 10 aos 12 anos (mas a edição contou com a participação de crianças pequenas e jovens).  Afinal, além de descobrirem o que é economia como teoria e prática, eles teriam de desenvolver uma reportagem jornalística sobre o tema.

Passado o primeiro susto, o desafio foi aceito e os resultados surpreenderam.

Alguns dos jovens repórteres já haviam participado de encontros do G-20 Social, inclusive a experiência está retratada numa das matérias, enquanto a maioria teve de fazer um exercício coletivo reflexivo.

A magia aconteceu quando os alunos descobriram que eles vivem imersos  no universo da economia, que move a sociedade.

Quando entenderam que o mesmo dinheiro os limita ou liberta, na medida que desconhecem ou conhecem a dinâmica financeira, compreenderam que administrar os pequenos gastos e projetar sonhos de consumo é factível e nem tão difícil assim.

O problema é a falta dele, mas a desigualdade social é assunto para outra revista.


Por que não aprender economia na escola?

Discutir a economia na escola pública, de acordo com os alunos, é incentivar a economia local; também, que a economia do cuidado, movimenta trilhões e pode ser a receita para a equidade social. Aprenderam que economia não tem idade e a educação financeira capacita para a vida e pode ser ensinada. Contaram como vivenciam a mesada virtual, que impõe limites e multiplica desafios; mas advertiram que mais de 70% dos jovens brasileiros de até 15 anos não estão preparados para calcular orçamentos, por mais simples que sejam. Descobriram que os seus pais podem participar da gestão orçamentária escolar e, principalmente, souberam ir na fonte de pesquisa, tanto documental como através de especialistas e depoimentos para entender que a economia não é um bicho de sete cabeças, mas que não dominá-la pode criar monstros difíceis de combater.

Ao longo de 24 páginas, os estudantes demonstraram, em seus textos e produção de imagem (fotos, ilustrações, gráficos etc.), a importância de dominar a economia diária para não cair nas suas armadilhas. Inclusive, alguns deles, como lidar como o câmbio e despesas internacionais, ao participarem do Fórum da Juventude, no Chile, em abril.

Realizada a partir de uma parceria do Núcleo de Educomunicação da Secretaria da Educação de São Paulo e o Programa de Pós-Graduação da Universidade Metodista de São Paulo, a Revista Imprensa Jovem integra um projeto maior, o Programa Imprensa Jovem, que há 18 anos incentiva a prática comunicacional, nas diferentes mídias, para a conscientização, promoção. colaboração, educação e emancipação social. Um projeto onde os alunos são os protagonistas e os professores catalisadores nessa construção coletiva.

Acesse a edição número 7 da Revista Imprensa Jovem a partir do QRCode:




Para ler as edições anteriores da Revista Imprensa Jovem clique aqui:




sábado, 20 de julho de 2024

Ignorância ou provocação: a diretora que confronta a história da democracia brasileira

Ilustração: Blog do Tarso

Dê poder a uma pessoa que ela irá usar ao seu bel prazer.

Sem debate.

Na "canetada", sendo mais explícita.

A notícia divulgada neste sábado (20/7/2024), de que uma diretora de escola estadual da região do ABC Paulista quer mudar os rumos do modelo educacional vigente tem tudo para virar mais um caso de Justiça.

Literal e figurativamente.

A tal autoridade decidiu aderir às diretrizes da escola militarizada, defendida  pelo governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

A questão é que a  escola tem o nome de um dos mártires do Brasil, o jornalista Vladimir Herzog, talvez o maior símbolo das atrocidades cometidas no país, preso e morto pelos carrascos da ditadura militar, em São Paulo, em 25 de outubro de 1975

A diretora Cristiane Meire, que está a frente da unidade escolar, localizada no município de São Bernardo do Campo, berço do movimento sindical brasileiro e linha de frente no combate à ditadura militar, parece desconhecer a história de sua cidade, estado e pais.

Ou será que ela quer negar ou inverter os fatos? Reescrever a história?

Para nós, que defendemos a democracia, o modelo institucional de ensino escolhido pelo governador mais violento da atualidade brasileira é inconcebível. 

Neste caso em particular, trata-se de insulto à memória de Vlado, mas também uma ameaça aos direitos dos alunos de estudarem numa escola sem ideologia doutrinária.

Vamos lembrar que o nome da escola foi uma homenagem a Vladimir Herzog: jornalista que trabalhava na TV Cultura, foi intimado a prestar depoimento à polícia e o fez espontaneamente, na certeza de que nada devia.

Foi andando e saiu morto.

Judeu, Vlado quase foi penalizado duas vezes, pois o Atestado de Óbito, forjado, registrava suicídio, o que contraria os preceitos da religião judaica.

Sabemos que foi uma farsa montada, com fotografia onde uma corda no pescoço de Vlado era a prova plantada.

Agora, quase 50 anos depois, o nome de Vlado pode ser relacionado à práticas antidemocráticas, numa escola onde sabe-se lá quem dará aulas no lugar dos educadores? 

Há muito as aulas de religião e Educação Moral e Cívica foram excluídas das Diretrizes Básicas que norteiam a educação pública brasileira!

A família de Vladimir Herzog e o Instituto que leva o nome do jornalista manifestaram-se contra a decisão unilateral, da diretora.

A primeira, para que o nome de Vlado "não se associe a esta atrocidade".

O IVH, que se norteia pela defesa dos Direitos Humanos e da liberdade de expressão, tomou para si a luta de "impedir que esse projeto seja implementado na escola em questão".

Na ânsia de tratar-se de mais uma vítima desse momento desinformativo que vivemos, espero que a diretora reflita, dialogue com a sociedade e volte atrás nessa decisão.

Enquanto isso, esperamos as decisões da Justiça de São Paulo sobre o pedido, feito pelo Ministério Público e Defensoria Pùblica , de anulação do Projeto de Lei Complementar 9/2024, que regulamentou a instalação do Projeto de Escola Cívico-Militar no Estado de São Paulo, aprovado pelos deputados.

#DitaduraNuncaMais

#Lugardemilitarénoquartel

#vladovive



quarta-feira, 10 de julho de 2024

A Folha que diz ser o que não é

 

Fonte: Fenaj

A má notícia veio de uma denúncia, 

Sempre uma mulher corajosa,

que não foge ao dever moral, ético, social, profissional.

Na quinta-feira (4/7/2024), foi desvelada uma nova arbitrariedade do Jornal Folha de S. Paulo, que publica ser includente em títulos e manchetes, mas na prática desvela o que não é...

Durante uma seleção de jornalistas (editoria saúde), o texto proposto beirou ao equívoco, tão absurdo!

Os candidatos à vaga foram desafiados a abordar a questão do PL 1904, aquele do "Criança Não É Mãe", que levou novamente o povo às ruas.


Prova de caráter?

Nesta etapa do processo seletivo, a questão discursiva, exigia que o candidato se posicionasse a favor do Projeto de Lei:

"Imagine que você seja a favor do PL Antiaborto Por Escrito", enunciava o teste. 

A Comissão de Mulheres da #Fenaj, entidade que representa os interesses dos jornalistas, divulgou nota condenando a atitude do jornal:

"Afinal, por que o referido jornal quer coletar argumentos a favor do PL do Estupro, ou da Gravidez Infantil, como vem sendo chamado, corretamente, pelos movimentos sociais contrários ao texto?"

As pesquisadoras da Compós -Associação Nacional dos Programas de Pós Graduação-, jornalistas ou não, mas acadêmicas, somaram à posição de repúdio, ampliando o debate.

Por que a representante da mídia hegemônica neoliberal não expandiu a discussão, deixando que os jornalistas defendessem a própria posição? Por que forçar um recorte enviesado?

Como segue a nota de repúdio:

"Em uma sociedade patriarcal e machista, afetada pela desinformação, o jornalismo precisa compreender sua responsabilidade em afetar posicionamentos e vidas. Tratar como "opinião" um tema de saúde pública não contribui pra um debate saudável, pautado no respeito às mulheres e avanço dos direitos.

Eu vou além:

trata-se de assédio moral com requintes de misoginia.

Imaginem um trabalhador, buscando uma oportunidade de emprego ou a realização de um sonho profissional, se deparando com uma "prova" dessas?

Eu, sem dúvida nenhuma, teria repetido à exaustão:

#NãoaoPL1904.

A Folha, é importante frisar, virou plataforma de vendas e instituição financeira.


Leia a íntegra da Nota de Repúdio da Fenaj em:

NR Fenaj        

terça-feira, 9 de julho de 2024

o preconceito disfarçado em gentileza

 

Imagem: captura de tela do X

Cena 1:

"Olha aí"... 

Um gesto com a mão, um sorriso...

Foi assim que o jornalista reagiu reagiu ao ser surpreendido, durante a sua análise, com a entrada da "faxineira"...

Cena 2:

O âncora, apresentador do programa Em Pauta, da Globonews, respondeu:

Então... deixa eu só... É uma moça que entrou para me ajudar, mas não tem problema, a gente já pediu para ela chegar um pouquinho para o lado, ali, que a gente está no ar."

Tudo aconteceu ao vivo, na noite de 8/7/2024, fugindo ao controle do "padrão Globo de qualidade".

Sim, faltou qualidade da informação, não pela entrada da trabalhadora em cena, enquanto o programa estava no ar - com certeza alguém deixou fazê-lo e outro alguém não percebeu e não redirecionou as imagens-, mas a maior falha, de informação e respeito, foi o ancora chamá-la de "moça".

Para mim, que trabalhei no sindicato representativo, foi uma falha grave do jornalista.

Não, não se trata da "moça" da limpeza que ajuda, mas de uma profissional de um segmento econômico importante para a sociedade.

Trabalhadora que estava em horário de trabalho, uniformizada, com os seus equipamentos (EPI e trabalho).

Estava desempenhando a função para a qual foi contratada, muito possivelmente por uma empresa terceirizada, mas como não tenho esta informação, pode ser funcionária, como os colegas que participavam no estúdio ou virtualmente.

Chamar uma trabalhadora de "moça" é um desrespeito.

São centenas de milhares de profissionais do Asseio e Conservação, que soma limpeza de ambientes públicos, institucionais, privados. Trabalhadores que desempenham funções diversas (banheiristas, controladores de acesso, copeiros, limpadores de vidros dentre outras), que podem ser contratados ou prestadores de serviço. 

Uma categoria laboral que exerce funções essenciais (inclusive trabalharam durante o isolamento social consequente da pandemia da Covid-19) e têm representação de classe.

Durante a convivência, como jornalista sindical, testemunhei que apesar de estarem inseridos na base da pirâmide, têm importante papel econômico na sociedade, mas, sobretudo, os considero agentes ambientais e de saúde. 

A maioria são mulheres, arrimo de famílias, mas também homens. A maioria de pele preta, mas também de diferentes etnias. A maioria migrantes, tanto interno como externos. A maioria em idade laboral, mas também inúmeros idosos.

Eles limpam a sujeira alheia.

São invisibilizados, como mostrou o flagrante ao vivo e a cores.

Como ensinou Maria:

Com o seu trabalho limpam a sujeira dos outros.

Por onde passam:

Não deixam rastros (da sujeira alheia).

Mais respeito.


para ver o vídeo

ou:

https://x.com/i/status/1810495239133499538

Não são todos os homens, mas ainda são muitos homens

Imagem: reprodução (foto Benoit Peryruoq/AFP Venho acompanhando, na medida do que é disponibilizado pela mídia, o julgamento do estupro cole...