sábado, 21 de dezembro de 2024

Conto (real) de Natal: a mãe fada e os vestidinhos felizes

Fotos: Juliane Carvalho, @MissEulália

Ela é jovem, mineira, tem cabelos longos e escuros.

É bonita, bonita, bonita!

Muito além do significado da palavra, mas na definição e essência do belo.

Artista, usa o dom da costura para fazer as suas clientes vestirem roupas que fazem sonhar...

Também, é mãe de três meninas que são pura inspiração.

Mas, há alguns meses, a fada, que se identifica mais com as bruxas, adormeceu.

Ela não feriu o dedo, mas foi picada,

não mordeu a maçã, mas foi envenenada.

Seus braços e pernas e todo o corpo entraram num estado de torpor.

Um inseto causou a  enfermidade de nome difícil: Síndrome de Guillain Barré.


A mãe adormecida

Como as fadas madrinhas dos contos não existem, a moça bonita foi se apagando, quietinha, imobilizada...

Um beijo não bastaria, nem o sopro mágico, e a bruxa/mãe dormiu por muito tempo!

O sono, de certo modo curativo, persistia e aumentava a catarse coletiva curadora enquanto a nossa bela adormecida sonhava em acordar.

Como não havia antídoto para tanta maldade,

os poderes mágicos se materializaram na fé dos familiares, amigas e clientes, que rezaram e nunca duvidaram da sua recuperação.

E o poder amoroso vibrou em todos os cantos.

Até que, um dia, quase que por encanto, a porção mágica veio da ciência e do esforço e capacidade da equipe médica.

A encantada acordou.

Reaprendeu a se movimentar, 

a andar, 

a costurar novamente...




Um talento amoroso

Imagine você ter a oportunidade de nascer de novo. 

O que faria se isso acontecesse?


Criar e costurar, com as próprias mãos, cem vestidinhos felizes.

Isso mesmo: vestidinhos artesanais para doar para uma centena de meninas, carentes, neste Natal.

Sem recursos financeiros, e ainda sentido fortes dores, ela convidou as clientes a se juntarem a ela e doarem os vestidinhos. 

O dinheiro, R$70 a unidade, foi totalmente destinado para compra de tecidos, aviamentos, adereços, já que a mão de obra foi doada por ela.

Ju, como é mais conhecida, criou e costurou peça por peça, uma diferente da outra, que vestirão crianças, de bebês a adolescentes, garantindo um pouco de beleza nas festas de final de ano.

Juliana Carvalho, 42 anos, artesã, criadora da marca mineira #MissEulália, vislumbrou um propósito:

Alguns vestidinhos felizes foram enviados pelos Correios, mas na sexta, dia 20 de dezembro, ela iniciou as entregas presenciais, acompanhada pelas filhas Eulália, 13, Letícia, 10, Lídia, 4 e a sobrinha Luíza, 8.

Na casa de acolhimento "Flor de Lótus", em Juiz de Fora, nas Minas Gerais, 40 meninas receberam o presente. É claro, por questões judiciais, não há registros fotográficos da ação, mas muitas memórias afetivas.

Eu fiz questão de levar as minhas meninas para vivenciarem este momento

conta Ju, também para que elas testemunhassem a questão da vulnerabilidade vivida por crianças da mesma idade que elas.


São crianças muito lindas! Elas arrumaram os cabelos antes da gente chegar... São meninas muito carentes, mas carinhosas e precisam de atenção. Nós nos abraçamos...  

Para Juliane, "é tudo muito novo" e desafiador:

 ainda sinto muitas dores no pé, não tenho o movimento total, terei sequelas permanentes, mas faço questão de continuar.


Costura é o sustento

Costurar é o trabalho de Juliana, que sustenta a família com essa lida. Mas ela adora doar, está sempre doando e compartilhando suas criações e acredita que esta também é uma força de educar as suas filhas.


Eu faço questão deixar o exemplo.  Eu sinto que isso é tão necessário... As pessoas precisam de ajuda, como essas meninas que os pais não puderam criar...


Em nenhum momento Juliane reclama do esforço, apenas sonha em, um dia, poder doar por conta própria, sem ter de pedir apoio financeiro.

Caminhar ainda demanda esforço, as quedas pelo caminho são constantes, assim como os machucados.

Mas, se a Bruxa do Bem da nossa história viveu o horror das princesas dos contos de fadas, a jovem costureira mineira é o exemplo do milagre da vida.

Uma energia criativa que voa no pedal e roda da sua máquina de costura.


Conheça o trabalho de Juliane em:

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